A aplicação de inteligência artificial (IA) no agronegócio está acelerando mudanças na forma de produzir alimentos, gerir recursos e enfrentar desafios climáticos. Ferramentas que antecipam surtos de pragas, otimizam o uso de insumos e permitem a operação autônoma de máquinas estão ampliando a produtividade e reduzindo custos, em um cenário que demanda mais sustentabilidade e eficiência.

Segundo levantamento da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), o mercado global de IA voltada à agricultura deve saltar de US$ 1,7 bilhão em 2023 para US$ 4,7 bilhões em 2028. O avanço acompanha um aumento significativo nos registros de patentes. Nos últimos anos, os depósitos relacionados a agricultura de precisão, automação e robótica cresceram acima de 10% ao ano, enquanto os ligados a modelos preditivos, que apoiam a tomada de decisão no campo, tiveram expansão média de 27% ao ano entre 2017 e 2021.

O relatório da OMPI mostra que fabricantes de máquinas agrícolas concentram centenas de famílias de patentes em dispositivos autônomos de precisão e em modelos computacionais integrados a equipamentos, já presentes em soluções como tratores com piloto automático, pulverizadores com visão computacional e colheitadeiras robotizadas. Empresas do setor químico também registram avanços, utilizando IA para otimizar a proteção de cultivos e prever safras.

Brasil no mapa da inovação

O Brasil também aparece nos estudos da OMPI, com centenas de famílias de patentes internacionais em dispositivos autônomos e modelos preditivos. Ainda assim, 90% dos depósitos feitos no país são de origem estrangeira, o que indica espaço para ampliar a inovação local.

A vantagem competitiva brasileira, segundo o levantamento, está na adaptação de tecnologias para áreas de cultivo de grande extensão contínua, como lavouras de soja e cana-de-açúcar. Esse cenário difere de países como os Estados Unidos, onde a produção agrícola é mais fragmentada geograficamente.

O Radar Agtech Brasil, iniciativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em parceria com a Embrapa e a SP Ventures, aponta a existência de mais de 1.500 startups ativas no setor. Essas empresas atuam em gestão de propriedades, automação de processos, agricultura de precisão e análise de dados. Muitas delas têm a inteligência artificial como núcleo tecnológico, oferecendo soluções em predição de safras, monitoramento climático, detecção precoce de pragas e uso otimizado de insumos.

A Embrapa mantém papel de destaque nesse processo, com foco em pesquisa aplicada e na difusão de tecnologias adaptadas às condições brasileiras, conectando ciência, empresas e produtores.

Perspectivas

O mapeamento feito pela OMPI indica 2025 como um ponto de consolidação da inteligência artificial no agronegócio, com impactos esperados em todas as etapas produtivas, da pesquisa à colheita.

O relatório também destaca que a combinação entre inovação tecnológica e propriedade intelectual será decisiva para capturar valor nesse setor. Apesar de a liderança atual estar nas mãos de grandes corporações internacionais, o Brasil tem potencial de ampliar sua participação global à medida que fortalece parcerias entre universidades, empresas e produtores e amplia os investimentos em pesquisa e desenvolvimento.