A sobretaxa de 50% sobre todas as importações brasileiras, entra em vigência a partir de 1º de agosto. A medida, anunciada em 9 de julho, traz riscos imediatos ao agronegócio, à produção de grãos e ao setor de maquinário agrícola no Brasil.
Agronegócio sob pressão
Setores como carne bovina, suco de laranja, café e frutas frescas já registram impactos visíveis. Segundo o Cepea/Esalq‑USP, esses segmentos enfrentam severo risco de queda nas vendas nos EUA, com estoques crescendo e preços internos sob pressão. No caso da pecuária, o preço da arroba segue em retração – ao redor de R$ 300, em São Paulo – sob efeito combinado da tarifa, oferta elevada e consumo interno fraco. A Fundação Getúlio Vargas projeta redução de até 75% nas exportações de alimentos aos EUA, com impacto de até 0,41 p.p. no PIB nacional e queda prevista de US$ 80 a 90 milhões por 10 pontos percentuais de tarifa sobre a Embraer, reforçando a gravidade do cenário
Grãos e maquinários
A sobretaxa de 50% imposta pelos EUA sobre produtos brasileiros ameaça criar um choque duplo na cadeia de grãos e maquinários agrícolas. De um lado, o aumento do dólar impulsionado pela incerteza política e pela persistência do “tarifaço”, encarece fortemente os insumos importados, como fertilizantes e peças de reposição para maquinários, elevando os custos de produção no campo
De outro lado, a expectativa de quebra de demanda americana sobre soja e milho pressiona as cotações em bolsas internacionais (como Chicago), reduzindo as margens de lucro dos produtores brasileiros, um cenário já observado no mercado de grãos nos últimos meses
Para o maquinário agrícola, dados da CNI e da UFMG indicam que, além de uma retração de até 23,6% nas exportações, a produção interna pode recuar em cerca de 1,9% — o que reduz escala industrial e onera ainda mais os equipamentos adquiridos pelos produtores. Como efeito combinado, há previsões de eliminação de até 110 mil postos de trabalho no Brasil, com cerca de 40 mil destes no setor agropecuário
Geopolítica e resposta diplomática
O governo brasileiro, liderado pelo vice‑presidente Geraldo Alckmin, busca reverter a decisão por meio de negociações com os EUA. Paralelamente, o ministro da Economia, Fernando Haddad, reconhece a possibilidade de não haver acordo antes de 1º de agosto, e aposta em planos de contingência, incluindo redirecionamento de exportações. O Itamaraty, por sua vez, convocou representantes dos EUA para debater o caráter político da medida, e o Brasil iniciou processo na OMC.
As tarifas de Trump representam um choque severo ao agronegócio nacional. A conjuntura exige ação estratégica imediata: ajustar custos, diversificar negócios e acompanhar atentamente o desfecho das tratativas diplomáticas.