Na COP 30, realizada em Belém (PA), o agronegócio brasileiro assumiu um protagonismo pouco visto em edições anteriores e apresentou dados que contrariam narrativas tradicionais sobre o uso do solo e o impacto ambiental da produção rural no país. Em um evento marcado por debates intensos sobre preservação e clima, o setor mostrou números que revelam um Brasil muito mais conservado do que costuma aparecer no discurso internacional.
Segundo informações atualizadas da Embrapa, 65,6% do território nacional permanece preservado, e uma parte significativa de 29% está dentro de propriedades rurais registradas no Cadastro Ambiental Rural. Na Amazônia, o contraste é ainda mais expressivo: 83,7% do bioma segue intacto, enquanto apenas 14,1% da área é utilizada para a agropecuária, somando pastagens e lavouras de maneira proporcionalmente pequena diante da dimensão da região. Os dados reforçam a mensagem de que o produtor rural não é o vilão ambiental frequentemente retratado, mas parte essencial da manutenção de áreas conservadas.
Durante as discussões, especialistas enfatizaram que o debate climático precisa ir além da ideia de simplesmente não desmatar. O engenheiro agrônomo Almir Rebelo destacou que sistemas produtivos na Amazônia, quando bem manejados, atuam como aliados no sequestro de carbono. Ele citou o exemplo dos cacauais, que geram créditos não apenas por evitar o desmatamento, mas também pela capacidade natural das plantas e do solo de absorver CO₂. Segundo ele, até a pecuária pode ter balanço climático positivo quando baseada em pastagens de alta capacidade de armazenamento de carbono.
Representantes do setor no Pará também chamaram atenção para a distância entre a narrativa global e a realidade de quem vive e produz na região. Produtores convivem com incertezas fundiárias, carência de infraestrutura e desafios sociais que raramente aparecem no centro das grandes negociações climáticas. Para líderes locais, dar visibilidade à vida real da Amazônia é fundamental para que políticas ambientais sejam sustentáveis e justas.
Neste ano, a COP contou com a criação da AgriZone, espaço organizado por entidades como Embrapa, CNA e Sistema Senar, dedicado exclusivamente ao diálogo entre produtores, pesquisadores e formuladores de políticas. A iniciativa foi vista como um marco simbólico, por finalmente colocar a produção de alimentos dentro do debate climático global. Nomes tradicionais do agronegócio brasileiro também estiveram presentes, reforçando a necessidade de construir uma narrativa baseada em evidências científicas e não em percepções antigas.
A preservação, no entanto, tem custo especialmente quando se trata da Amazônia, onde a vulnerabilidade econômica é uma realidade para muitos agricultores. Por isso, representantes internacionais defenderam que pequenos produtores precisam de apoio financeiro e técnico para adotar práticas sustentáveis sem comprometer sua subsistência.
Ao final dos debates, o recado do setor foi claro: o Brasil tem condições de liderar uma agenda climática moderna, baseada em dados e tecnologias, mas isso exige abandonar discursos ultrapassados que retratam o agronegócio como antagonista da conservação. A COP 30, na visão dos representantes brasileiros, abriu uma nova fase em que produzir e preservar deixam de ser vistos como forças opostas.